Por Keila Marques
Para mostrar o dia a dia de quem #FicaEmCasa, a missão era produzir uma série durante o isolamento social. Com criação do ator Bruno Mazzeo e da diretora Jabace, “Diário de um Confinado” saiu do papel e se tornou a primeira obra da Globo produzida remotamente em todo o seu ciclo, da pré a pós-produção. A estreia ocorreu no final de junho no Globoplay e, em seguida, foi exibida na TV Globo e no Multishow, além de contar com pílulas no GNT.
Há alguns anos, a Globo vem trabalhando em um pool de inovações tecnológicas com foco em produção remota, já aplicadas a grandes eventos. Agora, para garantir a segurança e a agilidade para as equipes em tempos de isolamento social, o modelo foi aplicado em toda a cadeia de uma produção de dramaturgia, incluindo essa entrega em todo o ciclo de produção e a direção artística, dirigindo remotamente o elenco. O grande diferencial deste formato de produção está nos conceitos de aplicação e na dimensão desses processos.
A ideia era garantir um resultado com a qualidade da televisão, mas feita em casa, criando soluções que ajudassem tanto os atores quanto a produção a ter uma dinâmica viva de interação. A solução foi desenhada em um momento em que o isolamento social tem sido protagonista, visando garantir segurança e agilidade para as equipes.
Em entrevista para a Panorama Audiovisual, Marcelo Bossoni, diretor de Tecnologia do Entretenimento da Globo, revelou que, ao longo do período de isolamento social, os profissionais da emissora, e todo o setor de broadcast e audiovisual, foram adquirindo aprendizados. “Revisitamos nossos processos, trocamos conhecimento com players de todo o mundo e criamos um Protocolo de Segurança direcionado para todas as etapas da produção. Neste protocolo há orientações que vão desde a pré-produção, passando pela atuação nos sets, além de logísticas de transporte, alimentação, regras para fornecedores, entre outras.”
Montagem e preparação da locação conduzidos remotamente
Seguindo os protocolos de proteção da empresa, as etapas de montagem e preparação da locação foram conduzidas remotamente com uma equipe multidisciplinar que pré-produziu a série. Esse processo incluiu a higienização dos materiais, além de triagem e separação dos kits destinados a cada um dos talentos.
À distância, o time de Tecnologia dava toda a orientação para a montagem básica do kit e fazia um acesso remoto nos aparelhos celulares para aplicar configurações. Apesar de já estarem pré-setados, os equipamentos exigem ajustes dependendo da luz, áudio e ambientação de cada local. Já nas gravações, havia todo o controle dos times envolvidos na produção via ferramentas de reunião virtual convencionais, com as equipes de produtores de arte, cenógrafos e figurinistas, auxiliando, remotamente, a preparação e ajustes de cada set, provendo todo e qualquer suporte necessário.
Para a pós-produção, a cada finalização de filmagem, os celulares eram acessados remotamente para transferir o material para a nuvem, conteúdo que, em seguida, era disponibilizado para os servidores nos Estúdios Globo. Ao todo, foram manuseados mais de 25 horas de material bruto.
Equipes se adaptaram encontrando soluções criativas
No total, 48 pessoas trabalharam na equipe responsável pela série. Entre eles, estão desde colaboradores da área de Tecnologia até diretor de fotografia, assistente de direção, arte, montador, pós-produção, efeitos especiais, etc.
A série foi produzida remotamente em todo o seu ciclo – da pré à pós-produção. As equipes estavam todas remotas, exceto os responsáveis pelos processos de sonorização e color grade – que precisaram ser feitos nos Estúdios Globo.
No apartamento da diretora artística, Joana Jabace, e do protagonista da série, Bruno Mazzeo, o diretor de fotografia, Glauco Firpo, passou a temporada de gravação presencialmente na locação, seguindo os protocolos de segurança.
A proposta era conseguir dar um salto significativo que permitisse fazer o programa remotamente. “Para isso, colocamos de pé uma série de soluções, como os kits de captação que os atores receberam cada um em sua casa, acessíveis e de fácil manuseio, com tutorial e todo o suporte da nossa equipe à distância para montagem e gravação”, explicou Bossoni. “Já a produção também teve que se adaptar ao momento e encontrar soluções criativas. Joana e Bruno, por exemplo, fotografaram os principais ambientes de sua casa para que a diretora de arte pudesse conduzir a cenografia”, acrescentou.
Para os atores com participações especiais na produção, como Arlete Salles, Fernanda Torres, Lázaro Ramos, Lúcio Mauro Filho e Renata Sorrah, que gravaram individualmente em suas casas, os equipamentos incluíram dois celulares de última geração: um telefone conectado em uma web meeting que permite às equipes monitorar e acompanhar a gravação; e outro aparelho para captação em 4K. O kit de gravação contempla ainda tripés, microfones externos de ótima sensibilidade que permitem o monitoramento à distância e ringlights para controlar a luz. Os atores contracenam remotamente com Bruno Mazzeo, que interpreta o protagonista.
Já para a direção, são disponibilizadas câmeras com sensores full frame, estabilização, smartphones, monitorações além de links de vídeo e itens de iluminação. Em ambos os casos, os materiais são ligados a um aplicativo de assistência remota que permite à Tecnologia apoiar e controlar toda a parte técnica durante as gravações. Um pedaço dessa gama de soluções abarca ainda outros times como assistentes de direção, cenografia, montagem, produção de arte, figurino, continuístas, técnicos de controle e grande parte da pós-produção, cada um em sua residência.
Todo o contato com os talentos foi feito virtualmente. Foram utilizados aplicativos de videoconferência para conectar os aparelhos da casa dos talentos e no próprio set na casa do Bruno e da Joana. Assim que o elenco recebia os equipamentos, bastava colocar para carregar e fazer uma montagem básica.
A equipe de Tecnologia dava – à distância – toda a orientação para a montagem básica do kit, e fazia um acesso remoto nos aparelhos celulares para aplicar configurações.
Desafios da produção
De acordo com o diretor de Tecnologia do Entretenimento da Globo, mesmo com a produção remota fazendo parte da realidade da emissora há alguns anos, é desafiador tirar as soluções do papel, principalmente quando se fala em garantir qualidade na execução em todo o ciclo de uma produção da dramaturgia, dando o suporte necessário a uma equipe diversa.
“Acredito que um dos principais desafios foi ultrapassar essas barreiras geográficas através de uma combinação de softwares de videoconferência e sistemas de monitoramento de multichamadas, garantindo toda a infraestrutura e suporte necessários para conectar os participantes aos sistemas”, explicou Bossoni.
O diretor acrescentou que é gratificante saber que a equipe foi capaz de executar as configurações à distância. Além disso, auxiliar cada talento e membro da produção, garantir o apoio técnico para transferência e armazenamento em nuvem. Tudo isso com o devido cuidado, da montagem à finalização, levando para o público uma experiência multiplataforma com um produto que tem uma história bem atual.
Com todos os desafios de estrutura em meio a uma crise global de saúde, esse modelo de produção remota contribuiu para proporcionar uma série de ganhos. Seguindo à risca os protocolos de segurança da Globo, as soluções ajudaram, por exemplo, a encurtar distâncias, aumentar aderência com os timings de produção, otimizar problemas de limitação física na pandemia e que permitem fazer uma série de processos em nuvem.
“A tecnologia tem uma capacidade incrível de evoluir e se adaptar. A pandemia do coronavírus trouxe uma nova realidade que exige uma reinvenção do setor como um todo, principalmente quando falamos em alternativas técnicas para garantir a máxima qualidade e resultado”, afirma Bossoni.
Segundo ele, a Rede Globo tem atuado fortemente entregando soluções de produção e acesso remoto, tanto para os produtos da dramaturgia quanto para os mais diversos programas da casa, construindo um trabalho relevante em um período tão essencial como o atual, mas que também pode esbarrar em projetos futuros.