No último outono, a Prime Video lançou a altamente bem-sucedida temporada de estreia de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder”. Com oito episódios, a primeira temporada foi um sucesso mundial sem precedentes, quebrando todos os recordes de público e horas de visualização para uma série original da Amazon.
“O Senhor dos Anéis” traz às telas pela primeira vez os heróis da lendária Segunda Era da história da Terra Média. O drama épico se passa milhares de anos antes dos eventos dos livros O Hobbit e O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, e transporta os espectadores de volta a uma era em que grandes poderes foram forjados, reinos ascenderam à glória e caíram em ruínas, heróis improváveis foram testados, a esperança se segurou pelos mais fino dos fios, e que um dos maiores vilões que já fluíram da caneta de Tolkien ameaçou cobrir o mundo todo de escuridão.
Rodado na Nova Zelândia com os efeitos visuais e a pós-produção realizados no mundo todo durante a pandemia, o produtor Ron Ames e o estúdio de pós-produção Company 3 precisavam de uma abordagem que não só permitisse a várias equipes colaborar a partir de continentes diversos para a finalização, mas também visionar em tempo real. Com as filmagens totalizando 786 horas e 24.659 tomadas, Ames sabia que uma solução baseada em nuvem seria um desafio. “Isso é muito material”, disse Ames, afirmando que o projeto se equipara a quatro longas-metragens de duas horas.
Ames colaborou com a Blackmagic Design e a Company 3 para criar uma solução de correção de cores baseada em nuvem, cujos resultados agora estão incluídos no DaVinci Resolve Studio 18. “Eu os notifiquei um ano antes”, Ames relembrou. “Eu disse: quero tratar as cores disso, sentado na Nova Zelândia, com o Skip (Kimball) em Los Angeles ou em sua casa em Idaho. Temos os mesmos monitores e iremos corrigir as cores em tempo real. E foi o que fizemos. Foi a coisa mais impressionante!” O fluxo de trabalho, desenvolvido com pré-visualizações em tempo real e sem limites de localidade para os colaboradores, com todos compartilhando as mesmas mídias, é o que Ames descreve como “um sonho que se tornou realidade” e não algo restrito aos grandes orçamentos.
A Blackmagic Design trabalhou em estreita colaboração com a equipe de engenharia especializada da Company 3 no desenvolvimento das ferramentas necessárias para cumprir a meta. Os engenheiros da Company 3, que fornecem serviços de ponta a ponta há algum tempo, se deram conta de que apenas enviar as imagens colorizadas da estação de trabalho do colorista sênior Skip Kimball para Ames e o resto da equipe não seria suficiente para atender aos requisitos. Em vez disso, as empresas trabalharam juntas para facilitar a criação do que, essencialmente, seria um estúdio de pós-produção em nuvem, com monitoramento HDR preciso sincronizado ao vivo em cada localidade. Baseada na arquitetura do AWS, a solução permite que mídias sejam manipuladas e conformadas na nuvem, como se todos estivessem na mesma localidade, usando armazenamento local para hospedá-las.
Kimball esteve envolvido desde o início do projeto, testando as iterações iniciais da aplicabilidade. “Há quase dois anos na pré-produção, criamos uma LUT de exibição que introduzia características com o estilo das películas cinematográficas às imagens, com as inclinações definidas em todos os níveis da curva de HDR”, disse Kimball. “Isso foi na fase inicial do processo, quando ainda estávamos tomando decisões sobre o look do programa, então criei uma LUT que não restringia e nem acentuava nenhuma cor em particular. Sabíamos que poderíamos fazer isso rapidamente durante o tratamento de cores.”
Com a produção em andamento, Kimball se animou com o novo fluxo de trabalho em nuvem. “Estávamos todos trabalhando de localidades diferentes, em três continentes, mas com as mesmas mídias, que estavam armazenadas na nuvem. Eu estava colorindo no Resolve no meu estúdio caseiro em Eagle, Idaho, e Ron Ames, o produtor associado Jake Rice e o supervisor VFX Jason Smith estavam na Nova Zelândia. Quando eu fazia uma correção no meu sistema DaVinci, ela era acionada no sistema DaVinci onde eles estavam, e eles conseguiam ver as alterações quase sem nenhuma latência. O que era muito importante para todos. Foi um projeto enorme e ninguém queria esperar, nem um pouquinho, para ver as alterações.”
Embora o fluxo de trabalho baseado em nuvem do DaVinci Resolve Studio 18 permita compartilhar o projeto DaVinci em tempo real, para compartilhar vídeos em tempo real entre os sistemas executando o DaVinci Resolve Studio, todos precisavam de uma placa de captação e reprodução DeckLink 8K Pro. Isso permitia que ambas as equipes monitorassem vídeos de 10 bits em alta qualidade e com uma latência extremamente baixa. Durante as sessões de visionamento com Smith, Rice e Ames na Nova Zelândia e o Kimball em Los Angeles ou Idaho, eles podiam assistir aos copiões em tempo real e conversar sobre o rumo desejado para o visual em termos da história. “Eles conversavam sobre o tom desejado para certas cenas”, relembrou Kimball. “Depois das anotações deles, eu trabalhava sozinho por um tempo. Começava a reproduzir e fazer correções pelo tato. Muito do que eu fazia era por instinto.”
Kimball também decidiu colorizar em Dolby Vision. “Utilizei os controles HDR do DaVinci, e todo mundo colaborando no tratamento de cores também conseguia ver o que estava acontecendo nos seus próprios monitores HDR. Isso foi especialmente importante para os efeitos visuais porque às vezes um efeito ficava bom em Rec. 709, mas falhava em HDR.”
Com uma história extensa e várias tramas, Kimball tinha um vasto leque de looks para brincar ao longo da temporada. “O programa se passa em mundos diferentes, então isso desempenhou um papel importante no tratamento de cores”, ele disse. “Quando estamos com os Harfoots, eles queriam um tom terroso. Eles são pequenos e ficam próximos do mato, então era parte do look. Quando vemos o castelo dos Númenorianos onde mora o rei, queríamos que parecesse bem luxuoso, vibrante e romântico. Há uma parte com um set em chamas nas Terra do Sul onde tudo está em um azul frio e tempestuoso. Eu consegui isolar as chamas no DaVinci e transformá-las de laranja para um amarelo mais dourado. Os parâmetros HDR no DaVinci são muito apurados e você realmente pode pegar uma parte muito específica da imagem para manipular. Fizemos coisas desse tipo ao longo de toda a temporada.”
Ames constatou que o novo fluxo de trabalho é um divisor de águas, e não apenas em grandes produções como “Os Anéis de Poder”. “Se fosse um filme independente, você poderia usar os mesmos sistemas. Você não precisa ser uma produção do tamanho dos ‘Anéis de Poder’ para se beneficiar desse sistema. Acredito que essa é a produção cinematográfica moderna; todos trabalhando juntos como uma equipe singular. Não era tipo: Beleza, vamos terminar e daí você receberá. Não tinha verticalização. Pessoalmente, achei o processo tão fascinante quanto o resultado.”
Todos os episódios de “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” estão disponíveis para streaming exclusivamente no Prime Video em mais de 240 países e territórios em idiomas diversos.
Site relacionado: https://www.blackmagicdesign.com/
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