Em uma conversa exclusiva com a Panorama Audiovisual, Tim Banks, Chief Revenue Officer da Grass Valley, analisa a transformação do mercado global de broadcast em 2025: a pressão por monetização (FAST, publicidade segmentada, datacasting), a aceleração da adoção de nuvem e fluxos híbridos, e o avanço de TV 3.0 no Brasil. Banks detalha casos recentes na Europa, EUA e América Latina, explica como a AMPP vem escalando em produção ao vivo e playout, comenta o valor do ecossistema GV Alliance e antecipa novidades que a empresa prepara para a IBC.
Panorama Audiovisual: Como o mercado global de broadcast está mudando em 2025, especialmente em novos modelos de receita (FAST, publicidade segmentada, datacasting) e como a Grass Valley está alinhando sua estratégia comercial?
Tim Banks: Vemos, no mundo todo, forças muito claras: uma demanda insaciável por conteúdo de alta qualidade, entregue em um número crescente de plataformas, serviços e dispositivos. Depois de investir pesado em direitos de transmissão esportivos ou de produção , o desafio é maximizar a monetização e, ao mesmo tempo, gerar economias operacionais significativas. O velho mantra “fazer mais com menos” nunca foi tão verdadeiro.
Para apoiar nossos clientes na criação de novas receitas, estruturamos dentro do GVX Customer Advisory Council um grupo de trabalho dedicado a novas aplicações de monetização. Trabalhamos lado a lado com emissoras e empresas de mídia para entender onde estão as oportunidades, como apoiá-las melhor e quais ferramentas levar ao mercado. E não falamos apenas de Grass Valley: aproveitamos o ecossistema aberto do AMPP para introduzir e integrar aplicações de terceiros interatividade, publicidade segmentada e soluções FAST de forma transparente dentro do portfólio GV.
Panorama Audiovisual: Adoção do AMPP: onde vocês estão vendo os maiores ganhos para produção ao vivo e playout? Quais os bloqueios que ainda atrasam rollouts em escala?
Tim Banks: Encaro a jornada em fases. Primeiro veio a consciência impulsionada pela pandemia e pela necessidade de usar computação em nuvem. Depois, a aceitação, com inúmeras provas de conceito pelo mundo. Em seguida, a adoção. Agora estamos claramente na fase de aceleração com uma quinta fase em paralelo, a advocacy, quando os próprios clientes contam publicamente seus resultados. Na IBC teremos a nova edição do GV Forum, com cases compartilhados por eles.
Regionalmente, o avanço é amplo. Na Índia, por exemplo, em outubro não havia nenhuma implantação de AMPP; seis meses depois, são dez. Na Europa, especialmente em esportes ao vivo, AMPP e o movimento para workflows definidos por software estão turbinando a produção remota: nesta temporada, o AMPP é usado na produção e distribuição do futebol inglês, italiano, espanhol e agora alemão.
Nos Estados Unidos, a transformação é liderada por grandes grupos CBS Sports, Warner Bros. Discovery, ESPN que adotam o AMPP em várias aplicações. E, na América Latina, com destaque para o Brasil, reforçamos recentemente uma parceria estratégica de múltiplos anos com a Globo, trabalhando de perto com a equipe na jornada para plataformas e workflows definidos por software no contexto da TV 3.0. Além disso, há operações com playout em AMPP e novos canais sendo lançados no país.
Panorama Audiovisual: TV 3.0 no Brasil: que capacidades específicas a GV oferece para experiências híbridas broadcast-broadband, interatividade, publicidade segmentada e workflows em 4K/8K?
Tim Banks: Partimos de uma base sólida. No core do portfólio GV hardware e software já suportamos 4K (e além), áudio imersivo e a transição para workflows/processamento definidos por software. Em cima disso, trabalhamos com parceiros da GV Alliance em interatividade e publicidade segmentada. Criamos ainda um grupo de trabalho para empacotar soluções turnkey não só com produtos GV, mas com terceiros complementares, encurtando o time-to-market com integrações pré-validadas. Essa abordagem atende tanto ao avanço da TV 3.0 no Brasil quanto a adoções de ATSC e iniciativas semelhantes no exterior.
Panorama Audiovisual: Como vocês orientam clientes a dividir workloads entre on-premises e nuvem pública para tarefas sensíveis à latência (switching, replay, gráficos, playout)?
Tim Banks: Não há resposta única. Como regra simples: se o uso é 24/7 e previsível, tende a fazer mais sentido manter o compute on-prem. Para picos eventuais torneios esportivos, eleições, cúpulas , onde é preciso escalar muito por curto período, nuvem pública em modelo OpEx/SaaS costuma ser mais eficiente.
Depois, avalie origem das fontes e destino da distribuição: se tudo já está na nuvem, por que trazer on-prem e criar custo/latência? Some-se a isso as condições financeiras (CapEx x OpEx) e a preferência operacional das equipes. Nosso conselho geral é adotar um modelo híbrido e multicloud: poder implantar workloads on-prem, em datacenter privado ou em nuvem pública inclusive em múltiplas nuvens oferece flexibilidade, agilidade, economia e, sobretudo, velocidade de time-to-air.
Panorama Audiovisual: Onde a GV Alliance entrega mais valor hoje? Quais categorias de parceiros têm prioridade (rede, storage, IA/ML, ad-tech, monitoring)?
Tim Banks: O objetivo é um ecossistema aberto para que os clientes escolham best-of-breed com interoperabilidade comprovada. Em um estudo, vimos que 25% do custo de um projeto ia só para integração entre fornecedores. Com o AMPP Alliance, muito desse trabalho já está feito. Oferecemos SDKs e APIs abertamente, e a interoperabilidade é testada previamente, gerando economia imediata de custo e tempo. Já são 100+ parceiros e crescendo.
Quanto às categorias: contribuição, armazenamento (on-prem e em nuvem), gráficos, orquestração (temos ferramentas próprias, mas integramos ambientes como o DataMiner, da Skyline) e, claro, IA. O AMPP e os apps da GV já incluem recursos de IA, mas queremos que o cliente possa adotar as melhores ferramentas do mercado. Na IBC, mostraremos workflows e casos de uso com parceiros unindo abertura para escolher com a padronização da plataforma AMPPpara simplificar operações e reduzir custos, sem lock-in.
Panorama Audiovisual: Como vocês quantificam economia de energia/espaço e impacto de carbono ao migrar de SDI legado para IP e operações baseadas em AMPP?
Tim Banks: Nem sempre é simples medir cada métrica isoladamente, mas já há implantações reais com resultados claros. Em Paris, um cliente consolidou três instalações em uma e ainda aumentou em 50% a produção de conteúdo. Em Hilversum, a DMC abraçou o ecossistema AMPP de ponta a ponta aquisição, ingest, produção ao vivo, mixagem de áudio, replay, edição, publishing para social, MAM e playout (cerca de 10–11 canais de esportes Tier-1). O projeto original, baseado em hardware proprietário, exigiria 30 racks; ao migrar para software com computação de prateleira (DELL AMPP Edge), o footprint caiu para 8 racks 75% de redução com impacto direto em energia, ar-condicionado e iluminação. É um ecossistema aberto (storage EditShare, Cisco IP Fabric, orquestração da Broadcast Solutions, etc.).
Outro exemplo: na CBS Sports (Manhattan), um canal de playout tradicional ocupava um rack 42U; com AMPP, roda em um servidor 2U ~95% de redução. E há líderes como a Sky, na Europa, que publicam ganhos de sustentabilidade ao migrarem para workflows definidos por software. São resultados concretos e atuais.
Panorama Audiovisual: IBC 2025: o que os visitantes podem esperar no estande da Grass Valley? Há prévias de roadmap ou demonstrações ao vivo que indiquem o próximo passo da produção ao vivo?
Tim Banks: Em câmeras, teremos as versões mais recentes da família LDX 100, incluindo a primeira demonstração pública da LDX 180, com estética cinematográfica (baixa profundidade de campo) dentro de um workflow comum, preservando consistência de look&feel inclusive em esportes. Também lançaremos a LDX 110, porta de entrada da linha LDX 100. Mostraremos produção remota com conectividade 5G e remote camera shading.
Em switchers, teremos nosso frame switcher mais recente (V XP) com a nova superfície de controle; é uma categoria em que mostramos tanto a força do hardware quanto as capacidades do software incluindo o Maverick X com novos recursos e o Sport Producer X, que reúne gráficos, replay, mixagem de áudio e switching numa interface por gestospara operador único.
Em infraestrutura, vamos lançar um novo roteador compacto 12G e a próxima geração do ACE (Agile Compute Engine) plataforma de alta densidade para gateways SDI-IP e roteamento SDI-IP, um bloco de construção para a próxima geração de soluções.
Em gestão/produção de conteúdo, traremos as últimas do Framelight X, com workflows de notícias e esportes que combinam elementos GV com soluções complementares de terceiros. Em playout, mostraremos novos recursos do Playout X e oportunidades de receita, incluindo soluções FAST integradas.
E, claro, uma vitrine ampla de soluções da GV Alliance dentro do Grass Valley Media Universe. Haverá foco em histórias de clientes e em áreas nas quais lideramos iniciativas do setor, como MXL temas que também estarão em destaque no GV Forum.
A IBC 2025 será realizada de 12 a 15 de setembro no RAI Convention Center, em Amsterdã (HOL).
Site relacionado: https://www.grassvalley.com
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