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Mal Me Quer: as tecnologias e técnicas por trás da primeira série cômica brasileira da Warner

Por Redação

Coproduzido pela Boutique Filmes, série busca abordar o divórcio a partir de uma perspectiva divertida. Equipamentos versáteis e equipe qualificada aceleraram processo de gravação.

Fotos: Stella de Carvalho

Conceber um seriado a ser veiculado lado-a-lado com sucessos mundiais como “Big Bang Theory” e “Supernatural” não é uma tarefa das mais simples. Pois é exatamente este o desafio do canal Warner junto com a Boutique FIlmes com a produção de “Mal Me Quer” que estreia no próximo dia 7 de fevereiro no canal por assinatura, e abusou de uma equipe altamente qualificada e um setup super versátil para fazer par ao mais alto nível da dramaturgia mundial.

Protagonizada por Julia Rabello e Felipe Abib, a história é centrada no casal Olívia e Marcel e seus três filhos adolescentes que, diante de uma possível falência, é obrigado a se divorciar para salvar os bens da família, mesmo sem estarem realmente buscando a separação.

“A série parte da observação que qualquer casal, se procurar bem, vai encontrar motivos para se separar. Então, ficar junto é uma escolha diária que eles fazem”, explica Rodrigo Castilho, roteirista-chefe que já foi indicado ao International Emmy Awards com Mothern (GNT) e também cocriou as séries O Negócio (HBO) e Descolados (MTV). “Mal Me Quer coloca os protagonistas em uma situação inusitada e única na qual podem experimentar o divórcio enquanto ainda estão casados. A partir desta experiência, eles vão poder decidir melhor se querem continuar juntos ou não”.

Confira o trailer:

Sinopses resumidas a parte, a comédia é uma coprodução da Warner com a Boutique Filmes, produtora paulista que, em pouco mais de 5 anos de existência, já acumula três indicações ao International Emmy Kids Awards por O Zoo da Zu (Discovery Kids) e SOS Fada Manu (Gloob), além de ser a responsável por 3%, a primeira série original brasileira da Netflix que está com sua terceira temporada em fase de filmagens. Com criação e roteiro de Ana Reber e Rodrigo Castilho, direção geral de um dos criadores do canal Porta dos Fundos, Ian SBF, e produção executiva de Tiago Mello, sócio da Boutique, Mal Me Quer é uma aposta em uma forma nova e divertida de se abordar esse tema denso que é o divórcio.

“A comédia é um novo universo a ser explorado pela Boutique”, afirma Tiago Mello. “Trabalhamos muito no infantil e esse gênero já tem bastante humor. Apesar de Mal Me Quer ser mais família, nós não enfrentamos grandes dificuldades em trabalhar nesse novo gênero. O que fizemos foi investir no roteiro, na direção e nos atores para que elevássemos ao máximo o nível de humor”.

Projeto e pré-produção
De acordo com o sócio da produtora, o projeto da série teve início há aproximadamente três anos, quando os criadores apresentaram o conceito da obra para ele. “A Boutique sempre está em busca de novos projetos nos núcleos de ficção, não-ficção e infantil. Temos uma equipe dedicada e fazemos reuniões mensais para avaliar novos projetos”, relata. “No caso do Mal Me Quer, nós gostamos do conceito mas achamos que precisávamos do roteiro para poder vendê-lo para o canal e alocamos recursos próprios para esse desenvolvimento. Gravamos o piloto, apresentamos ao canal e eles financiaram a série a partir de recursos do artigo 3ºA da distribuidora Warner”.

Elenco principal, Felipe Abib, Lipe Volpato, Chiara Scalett, Klara Castanho, Julia Rabello e o diretor Ian SBF

Ambientada na cidade de São Paulo, a série tem como dois cenários principais a casa da família e um apartamento flat que Marcel se muda depois que o casal inicia o processo de divórcio. Ambos, no entanto, foram gravados na mesma locação: uma casa de dois andares na região do Jardins na zona oeste da capital paulista. “A casa possuía um elevador, o que permitiu que fizéssemos uma adaptação no andar superior para parecer um flat. Mas, além disso, filmamos em alguns bares, restaurantes e ruas em São Paulo”, explica Mello.

Além da série, com seis episódios de 30 minutos, a Boutique está entregando outras 40 peças audiovisuais para divulgação na programação do canal e em mídias sociais. Tudo isso gravado em um período de aproximadamente quatro semanas, entre julho e agosto de 2018. Para Mello, essa velocidade só foi possível graças à preparação e planejamento de toda a equipe envolvida.

“Conseguimos ensaiar diretamente na locação com duas semanas de antecedência e fizemos duas unidades separadas, uma para a série e outra para as peças, até por serem linguagens, roteiros e formas de gravar diferentes”, explica. “No fim, acabávamos filmando as pílulas de divulgação nas brechas do cronograma dos atores. O Ian SBF também é um diretor bem rápido, buscando o que é essencial para o humor”.

Setup
É claro, a facilidade e a versatilidade da tecnologia para a produção também foi essencial. Os sets foram relativamente compactos: com dois kits de câmera Sony PXW-FS7 II, que é uma câmera bastante portátil (2 kg) com sensor CMOS 4K de 35mm, lentes montagem E padrão Sony e entrega em Apple ProRes 422 e RAW. Acompanhando as câmeras estavam óticas zoom da Fujinon com follow focus ARRI FF-5. Para a gravação foi usado o Pix 240i da Video Devices.

Em termos de monitoração, na câmera foi usado um sistema Odyssey 7Q+ da Convergent Design que possui uma tela de Oled de 7.7”, entradas HDMI e SDI e entrega exibição em 4K. Já para monitoração em set, foram usados monitores de 21” da Panasonic usando transmissão sem-fios via Teradek Bolt 500.

Segundo Mello, a Warner não fez grandes exigências técnicas para a produção de Mal Me Quer. “Não é uma série cheia de efeitos especiais, então não precisávamos de um grande investimento em equipamentos para entregar uma comédia de alta qualidade e que conversasse com o que já é feito no canal”, defendeu. “Privilegiamos uma câmera que nós já havíamos adquirido, que não fosse nos dar dor de cabeça, que pudesse ser montada rapidamente, que fosse leve e favorecesse a atuação”.

Fotografia
Com o set de iluminação com refletores HMI e um Skypannel da ARRI, os Dedoflex Octodome e alguns postes de iluminação, o diretor de fotografia, Cesar Ishikawa, buscou captar um aspecto mais natural para a série. “Queríamos fugir do tom pesado que as séries norte-americanas dão para esse tema do divórcio, mas sem ficar com cara de uma sitcom ou uma comédia pastelão. Por isso, partimos para algo mais naturalista com todas as cenas puxando para um aspecto mais solar, bem iluminado mas sem as cores saltarem tanto aos olhos”, pontua. “Buscamos referências no cinema francês, com Papa ou Maman (2015), e também no americano, com A Rede Social (2010), e acho que fizemos um bom trabalho em conjunto com a direção de arte da Monica Palazzo no figurino, com cores que se encaixam muito bem na série em contraste com o cenário”.

Para buscar esse aspecto solar e naturalista, Ishikawa exemplifica o uso de algumas técnicas de iluminação. “Quando fazíamos cenas internas durante o dia, eu tentava ao máximo aproveitar a luz da janela, com uma única grande fonte de luz vindo de apenas uma direção. Basicamente, colocamos todos os refletores HMI com a mesma temperatura da cor do sol rebatendo em um butterfly gigante de 4×4 metros para que essa luz voltasse e preenchesse o ambiente todo”.

Nas cenas noturnas, por outro lado, a luz seguia um padrão mais low key, expondo os atores mas sem deixar tudo muito iluminado. “Nas externas noturnas, utilizamos uma luz de sódio, que simula os postes de iluminação de São Paulo, com uma cor alaranjada”, diz o diretor de fotografia. “Geralmente, quando fazemos gravações noturnas, temos essa ideia de uma luz azul da noite e eu acho esse tom muito lúdico. Como temos essa proposta naturalista, busquei aquele aspecto que é captado quando você utiliza sua câmera do celular para tirar uma foto a noite com alguns postes com essa luz de sódio”.

Para ter maior controle da iluminação das locações principais e simular gravações noturnas mesmo de dia, a equipe de produção da Boutique também utilizou o truque de instalar uma barraca nos fundos da casa alugada para a série. “Essa barraca sempre tinha um pano branco para suavizar a entrada de luz pela janela e, quando precisávamos simular a noite mas estava de dia, nós cobríamos com um pano preto”.

Produção em 4K
Embora a entrega do conteúdo tenha seguido o padrão de TV Digital, com imagem em Full HD, todas as gravações foram feitas em resolução 4K já pensando em uma futura utilização em plataformas digitais. “O 4K só ajuda. Mesmo que tenhamos gravado em um codec mais leve, para não precisar de um gravador externo, o 4K permite que, na pós produção, nós possamos reescalar alguma cena e fazer um crop conforme for necessário”, ressalta o diretor de fotografia. “Se há a oportunidade de gravar em 4K, sempre vale a pena, mesmo que a entrega seja em Full HD”.

O diretor também diz adorar trabalhar com a câmera escolhida para a produção. “A FS7 entrega um material muito bom. Todos os sets eram bem controlados em relação à luz e a câmera responde bem em baixas luzes, mas é preciso entender qual é a melhor sensibilidade para se trabalhar”, disse. “Por isso, já na pré-produção, nós fizemos vários testes para achar o look para a série e ver onde a câmera entregava mais informação para nós”.

Os ensaios prévios também auxiliaram na aceleração das filmagens. “Os atores tinham uma química muito grande e trabalhávamos para deixar eles bem a vontade. Há algumas cenas bem longas, de diálogos de três a quatro páginas do roteiro. Por isso, já no ensaio, o operador de câmera acompanhava tudo o que eles faziam para ter tudo o que iria acontecer na cena bem marcado”.

Ishikawa também relata que, apesar de querer um pouco mais de profundidade de campo para ter um aspecto mais desfocado em determinadas cenas, o jogo de lentes zoom em conjunto com um filtro Black Pro Mist trouxe bons resultados. “No digital, sempre trabalhamos para não estourar nada e esse filtro ajuda a suavizar os highlights. Utilizamos em todas as cenas”.

Áudio e finalização
Para o áudio, a Boutique apostou em um sistema igualmente compacto e de fácil operação, centrado principalmente nos gravadores Sound Devices 664 e 552 conectados sempre ao syncbox Denecke SB-T, ajudando a manter tudo sincronizado de acordo com o timecode. Em relação aos microfones para a captação dos atores, a produtora utilizou três sistemas sem-fio da Sennheiser SK 2000 com capsulas Sanken além dos Sennheiser MKH-40  e MKH-416 como microfones para vara de boom.

A montagem dos episódios foi realizada nas próprias instalações da Boutique Filmes em São Paulo, com a pós-produção ficando a cargo da parceira de longa data Quanta Post. “Os arquivos originais vão direto do set de filmagem para a Quanta e eles nos disponibilizam uma versão Proxy para fazermos a montagem utilizando a suíte de softwares da Adobe na produtora”, relata Mello. “Após isso, nós indicamos qualquer necessidade de efeitos visuais e o diretor de fotografia acompanha a correção de cor nas instalações da Quanta para a finalização e entrega do material para o canal”.

“Lançar uma coprodução original local é proporcionar um conteúdo com a cara dos nossos fãs. A série aborda, de forma leve e divertida, assuntos que os casais brasileiros, famílias e amigos podem se identificar, e claro, com a essência da Warner”, afirma Silvia Elias, diretora sênior de conteúdo da Turner, dona da Warner, no Brasil.

Mal Me Quer vai ao ar a partir do dia 7 de fevereiro, sempre às quinta-feiras, às 19h35 na Warner Channel. Além de Julia Rabello e Felipe Abib, o elenco ainda conta com os atores e atrizes Klara Castanho, Chiara Scalett, Lipe Volpato, Samuel de Assis, Cristiane Wersom, Angela Dippe, Wandi Doratiotto e Carol Nakamura, entre outros.

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