Rede Globo inova em tecnologias de Realidade Aumentada, Produção Remota e Transmissão ao Vivo por redes de Dados 4G.
Realizar a cobertura do maior evento esportivo do planeta não é uma tarefa simples. Além da enorme logística em termos de equipamentos, pessoal e processos de trabalho, ainda há a responsabilidade para com as audiências a enorme soma de dinheiro investida por patrocinadores na ação. Ciente deste desafio, a Rede Globo abraçou a Copa do Mundo FIFA 2018 com a intenção de realizar seu maior e mais abrangente programação diretamente da Rússia.
Durante os 30 dias de competição, a emissora trabalhou para levar aos espectadores brasileiros todos os jogos, sendo 56 ao vivo e 8 com “melhores momentos”, uma vez que aconteciam simultaneamente a outros na última rodada da fase de grupos. Acompanhando a distribuição estaria uma intensa produção de conteúdos, com âncoras, apresentadores, repórteres, narradores e comentaristas diretamente da Rússia, totalizando 600 horas de programação divididas entre Globo, SporTV e Globoesporte.com.
Foram mais de 400 profissionais atuando o tempo todo, seja em operação remota, in-loco nos espaços montados pela emissora no país sede, ou acompanhando as principais seleções e craques da competição em 23 equipes dedicadas. Em termos de equipe técnica, de engenharia e produção, eram 40 profissionais alocados.
Como uma das principais Detentoras de Direitos da Copa do Mundo, a Globo realizou todo seu trabalho em parceria com a HBS (Host Broadcast Services), empresa ligada à FIFA responsável pela geração das imagens da competição. Foram diversos níveis de contratação de serviço adquiridos pela emissora brasileira. Para os jogos da Seleção Brasileira, foi contratado Cabines de Narração, Posição de Câmera Exclusiva no Campo, Posição de Zona Mista, Circuitos de Coordenação, Circuitos de Internet e Circuitos de Contribuição para levar os sinais para o IBC (International Broadcast Centre), uma espécie de central tecnica compartilhada para a Copa do Mundo. Já para os jogos de outra seleções foi contratado somente a Posição de Comentário com Câmera.
Já em termos de infraestrutura, a Globo contratou junto à HBS dois estúdios na Praça Vermelha (Estúdio Panorâmico) além de três contêineres duplos para servir como central técnica, redação e logística e circuitos para conectividade com o IBC. Por falar em IBC, dentro da enorme instalação foi contratado o conjunto de sinais multilaterais, espaço físico e infraestrutura de energia e ar condicionado para a instalação da central técnica de conectividade entre Rússia e Brasil. Por fim, já em terras brasileiras, foi contratado o acesso remoto ao servidor da FIFA para acesso aos clipes de melhores momentos dos jogos, que eram baixados e gravados nos servidores de edição da própria Globo.
Estúdio Panorâmico e Realidade Aumentada
Um dos pontos mais emblemáticos da cobertura da Rede Globo na Copa do Mundo 2018 foi a presença constante da Catedral de São Basílio revelada pela janela do Estúdio Panorâmico montado na Praça Vermelha. Mudando a tradição que vinha desde 2002 de os apresentadores ancorarem os telejornais do hotel onde os jogadores da Seleção Brasileira se concentram, a emissora buscou uma forma de deixar mais imersiva a experiência Copa do Mundo, colocando o espectador em contato direto com o país sede.
Cheio de ferramentas tecnológicas, o espaço contou com o uso criativo de recursos técnicos para ampliar virtualmente o espaço, gerando um panorama de 180 graus da paisagem. Também no contexto de imersão, o Estúdio Panorâmico foi preparado para contar com diversos gráficos com o uso de Realidade Aumentada.
Em termos de uso de AR, a cobertura contou com a criação de um Telão Virtual para interação entre os âncoras do estúdio na Rússia, os repórteres ao vivo e também os âncoras no Brasil, gráficos 3D mostrando as tabelas e gráficos da competição, jogadores virtuais em movimento, o mascote Globolinha, entre outras. Toda a produção das artes e animações foi produzida internamente pela equipe da emissora e contou com os Render Engines da Avid (HDVG) e o sistema de tracking da Stype.
“O estúdio é um projeto original desenvolvido pela divisão de Arte e Tecnologia da Globo e representa um grande avanço em comparação ao que tínhamos nos jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016”, afirma José Manuel Marino, Diretor de Tecnologia Esportiva da emissora. “Não há elementos de cena físicos no estúdio. Nós temos somente três telas de LED gigantes, seis câmeras e nada mais. Estamos colocando no ar quatro noticiários por dia e dois programas semanais direto do estúdio. As câmeras são cortadas no Rio, pois estamos usando produção remota, para que o estúdio fosse ao mesmo tempo inovador e eficiente”.
“Trabalhamos muito próximos à Globo em cada passo do caminho até Moscow para ajudar a tornar realidade a visão da emissora”, afirmou Ed Tischler, Diretor Geral da Gearhouse Broadcast UK, empresa responsável pela implementação do estúdio. “Realidade aumentada é uma ferramenta poderosa para conseguir análises complexas para audiências mainstream com uma estética agradável e criativa. A tecnologia da Avid é a escolha certa para este tipo de aplicação broadcast e vai, cada vez mais, figurar em eventos esportivos importantes como a Copa do Mundo. Foi uma excelente oportunidade de ver a solução Maestro funcionando”.
Diante de tantas novidades, a equipe de engenharia da emissora resolveu realizar uma espécie de “piloto” das operações na Rússia. Para isso, foi construído dentro das instalações da Globo um modelo em escala 1:1 do Estúdio Panorâmico totalmente funcional, com os mesmos equipamentos e o mesmo fluxo de trabalho que seria usado em território estrangeiro, como uma forma de antever qualquer dificuldade ou problema de operação.
Produção Remota
Cotada como uma das principais evoluções tecnológicas para reduzir os custos de operações de grande porte, a produção remota ganhou popularidade em eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas conforme a estabilidade da tecnologia aprimorou. A possibilidade de ter menos gastos com envio de pessoal e logística de equipamento, além de poder contar com a própria infraestrutura, já instalada e funcionando, fazem deixam esta modalidade extremamente atrativa.
Com isto em vista, a Rede Globo montou uma operação para confiar toda a parte de controle de corte remotamente funcionando no Rio de Janeiro. Até a Copa de 2014, nos jogos haviam unidades móveis diretamente nas arenas para produzir o jogo, fazendo cortes entre os sinais oferecidos pela HBS e as câmeras da própria emissora, enviando já um sinal PGM para a sede no Rio de Janeiro.
Já na Copa do Mundo de 2018 entrou um novo modelo em cena, com um kit transportável para realizar a mixagem dos microfones na cabine de locução, gerando um sinal de áudio único que era embarcado junto às câmeras exclusivas. Todos os sinais de vídeo (Exclusivas + HBS) eram enviados via links de fibra óptica para o centro de controle e finalização no Rio de Janeiro, onde só então era cortado no switcher. Em outras palavras, removeu a necessidade de uma Unidade Móvel de Produção in loco, e todos os custos e desafios logísticos que isso representa.
O mesmo sistema vale para todas as produções que aconteceram dentro do Estúdio Panorâmico na Praça Vermelha. Os sinais de áudio e vídeo das câmeras e microfones do estúdio eram enviados para o Rio de Janeiro por fibra óptica e só lá cortados e finalizados, removendo a necessidade de haver um controle e finalização na Rússia. Toda esta conectividade via fibra era garantida por uma pequena central técnica construída dentro do IBC para gerenciar o transporte de sinais entre Brasil e Rússia.
Adeus às SNGs
Não foi só as Unidades Móveis de Produção que perderam sua vez durante a Copa do Mundo 2018, a velha combinação entre equipe de ENGs e Unidades de SNG também perderam a vez em pról de uma tecnologia mais leve e ágil. A necessidade de colocar 23 equipes de repórteres seguindo seleções e craques específicas durante a competição demando um tipo de solução que fosse portátil, fácil de transportar e de operar e mais barata, os Mochilinks.
Contextualizando a tecnologia, os Mochilinks são dispositivos de conectividade que permitem o envio de um sinal de vídeo por meio de redes móveis de dados 3G ou 4G em tempo real para um destino pré-configurado utilizando um conjunto de SIM cards de forma a ter redundância e soma de sinais. O nome vem da construção de kits dentro de mochilas, permitindo que o operador de câmera carregue nas costas o equipamento, que é leve e pequeno, enquanto opera a câmera.
Durante a cobertura da competição, as equipes de ENG da Globo foram constituídas de um repórter, um operador de câmera e um produtor equipados com uma Camcorder Sony PMW-300K2 ou PMW-200, um laptop com ferramentas para edição e um Mochilink da LiveU com conectividade 4G. Apenas com esta estrutura foram feitas mais de 700 entradas ao vivo via 4G com um índice de erro inferior a 1%.
Para atingir estes números, a equipe de engenharia da emissora contou com muito planejamento prévio, desde a aquisição de soluções. “Dado que se trata de um evento com demanda pontual, optamos pela contratação de serviços junto a LiveU, que foi a empresa que melhor atendeu nossa requisição”, afirma José Manuel Mariño.
Prevendo a possibilidade de instabilidades de conexão, Mariño conta que a equipe fez bem o “dever de casa”. “Nós estudamos previamente o mercado russo, fizemos testes durante a Copa das Confederações e usamos esta solução por mais de um ano com dois correspondentes que estavam na Rússia”, conta. Após o período de testes, foram escolhidas as operadoras MTS, Megafon e Beeline para fornecerem os SIM Cards com as redes de dados para a operação.
Louros da vitória
A Seleção Brasileira pode não ter tido sua participação mais gloriosa em uma competição de futebol internacional este ano. Já os resultados de todo o esforço técnico e de conteúdo da Rede Globo renderam bons frutos. Em comparação com a Copa 2014, o crescimento de audiência na TV Aberta medido pelo IBOPE subiu 10 pontos, atingindo 55,98 pontos, com uma participação de 80% em todos os televisores ligados e um aumento de 10% no total de aparelhos sintonizados na competição.
De acordo com o Diretor de Programação Amaury Soares, o trabalho realizado pela emissora somado ao impacto das partidas como espetáculo foram as duas frentes responsáveis por este crescimento. “Se é verdade que havia um desinteresse do brasileiro antes da competição, isto sumiu logo nos primeiros jogos”, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo. “Atribuímos as excelentes e crescentes taxas de audiência à qualidade de nosso amplo projeto de cobertura e transmissão e aos resultados surpreendentes da competição”, conclui.
Comentários fechados.