O Salão do Museu de Artes Aplicadas (MAK), em Viena, foi palco no último dia 31 de maio, o de um evento que cruzou fronteiras entre arte, ciência e tecnologia: a execução ao vivo da icônica valsa “Danúbio Azul”, de Johann Strauss II, que, além de ser transmitida globalmente, foi enviada em tempo real em direção à sonda Voyager 1, atualmente a mais de 24 bilhões de quilômetros da Terra. A ação fez parte da iniciativa “Waltz into Space”, que celebrou os 200 anos de nascimento do “Rei da Valsa” e os 50 anos da Agência Espacial Europeia (ESA).
A peça, eternizada no cinema por Stanley Kubrick em 2001: Uma Odisseia no Espaço, ganhou um novo papel simbólico: tornar-se uma embaixadora cultural da humanidade no espaço interestelar.
Responsável pela captação e mixagem do concerto, o estúdio austríaco tonzauber, liderado por Georg Burdicek, utilizou um estúdio móvel centrado na mesa digital Lawo mc²36 MkII. O console, com 384 canais DSP a 96 kHz, suporte para 864 caminhos de I/O e compatibilidade nativa com ST2110, AES67 e RAVENNA, foi o núcleo do trabalho, que envolveu mixagem ao vivo em Dolby Atmos, gravação multicanal e múltiplas saídas de transmissão simultâneas.
“Nosso objetivo era entregar um som com padrão máximo de qualidade – não só para o público no local e nas transmissões, mas também, simbolicamente, para o universo”, comenta Burdicek. “É uma honra ter sido o primeiro a enviar música ao espaço via uma mesa Lawo.”
Curiosamente, o maior obstáculo técnico não foi a orquestra de 40 músicos, conduzida por Petr Popelka, novo regente da Orquestra Sinfônica de Viena, e sim o próprio espaço. “O museu não foi feito para concertos. Teto de vidro, superfícies duras… um pesadelo acústico”, explica o engenheiro de som. Para superar isso, foram usados 28 microfones condensadores Schoeps, pela sua fidelidade sonora e baixa interferência visual, além de um uso intensivo das ferramentas de processamento dinâmico e equalização da Lawo integradas com os plugins da Waves.
Toda a distribuição de sinal foi feita via protocolo RAVENNA, garantindo flexibilidade total para gerenciar os fluxos de microfones, comentários, retornos e transmissões. “Sem uma infraestrutura de rede como essa, seria impossível coordenar essa produção com uma topologia tradicional ponto a ponto”, pontua Burdicek.
O workflow também se beneficiou da interface intuitiva do console mc²36 MkII, com faders coloridos e camadas livremente atribuíveis. “Foi uma apresentação ao vivo com atenção mundial. No final, conseguimos transmitir o sinal de áudio em tempo real para uma estação da ESA na Espanha, normalmente usada para missões espaciais”, destaca.
O sinal eletromagnético foi transmitido da estação DSA 2 da ESA em Cebreros, Espanha, na velocidade da luz, devendo alcançar e ultrapassar a Voyager 1 em cerca de 23 horas, um gesto poético, já que a música não fazia parte do disco dourado original enviado com a sonda em 1977.
O projeto teve repercussão internacional, com eventos paralelos em Viena, no Bryant Park em Nova York e no próprio centro da ESA em Cebreros. Em sua fala, o diretor-geral da ESA, Josef Aschbacher, destacou: “Nossa tecnologia não serve apenas para dados científicos, ela também pode carregar arte humana através das distâncias. A música, assim como o espaço, conecta toda a humanidade.”
Para Burdicek, a experiência vai além da engenharia: “Tentamos esculpir um som a partir de uma sala acusticamente hostil que fosse não apenas agradável, mas emocionalmente tocante, talvez até para os alienígenas. E acho que conseguimos.”
Sobre o tonzauber
Fundado em 1998, o estúdio austríaco tonzauber é especializado em gravações acústicas ao vivo, produções em estúdio, trilhas sonoras e pós-produção para vídeo. Desde 2022, conta com um caminhão OB equipado com a mesa Lawo mc²36 MkII, permitindo gravações estéreo, surround e HD PCM até 24Bit / 192kHz. A equipe é reconhecida por desenvolver soluções sob medida para produções de alto nível.
Site relacionado: https://lawo.com
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