Conversamos com os profissionais por trás da Alliance, nova integradora que inicia as operações em Abril no Brasil.
Não é segredo para ninguém que os últimos anos foram duros com os integradores de tecnologia. Parte principal do ecossistema de produção e distribuição de mídia no Brasil, estas empresas são as responsáveis por atender as demandas e desafios das emissoras, casas de produção e outras operações, muitas vezes agindo também como importadores e agregando o valor de projetos de engenharia. Exatamente por conta deste primeiro fator, que estamos falando de um biênio complicado.
As variações cambiais transformaram a atividade de importar com alguma segurança em uma verdadeira epopeia financeira. Além disso, a crise trouxe uma forte retração no mercado comprador, com clientes buscando soluções criativas in-house ao invés do investimento em tecnologia para expansão de operações. Esta situação de mercado fez com que as integradoras passassem cada vez mais a prestar serviços e agregar à suas vendas o trabalho de projeto e engenharia, ampliando assim os ganhos ao mesmo tempo que reduz o custo para os clientes.
De qualquer forma, com o mercado demonstrando recuperação para 2018, o perfil das integradoras mudou e a própria forma de o mercado adquirir tecnologia também. É neste contexto que dois veteranos do setor decidiram iniciar uma nova operação atendendo este perfil e moldando-se ao que os clientes vêm buscando como solução.
Com inicio das operações marcada para Abril de 2018, a Alliance Technologies foi fundada por Fredy Litowsky e Maurício Belonio com o objetivo de trabalhar com marcas sólidas e oferecer serviços de alto padrão para emissoras de TV e outras empresas do ecossistema de produção e distribuição de mídia. A Panorama Audiovisual conversou com os dois profissionais para entender melhor sua visão de mercado e o que a Alliance deve oferecer como diferencial para os clientes brasileiros.
Panorama Audiovisual: Como vocês estão visualizando a operação da Alliance em termos de serviços e produtos para o mercado brasileiro?
Freddy Litowsky: A crise fez diminuir em muito o número de projetos disponíveis no mercado. O cliente buscou melhor preço e os fornecedores se adequaram ao novo modelo. Logo, o mercado é voraz na luta por oportunidades. Uma clara confirmação disto é o fato de que quase todos os players levam consigo dezenas de fornecedores, muitos concorrendo em preço e especificidade com outras empresas de seu portfólio. Uma mesma revenda tem, muitas vezes, dois ou mais fabricantes que acabam por oferecer linhas de produtos sobrepostas.
Maurício Belonio: Acreditamos num modelo de sucesso alcançado através de parcerias tanto com o cliente quanto com o fornecedor que tenham como premissas o comprometimento, a transparência e a excelência. A Alliance tem parcerias estabelecidas com os fabricantes Ross Video e Riedel Communications, empresas sólidas com linhas de produtos relevantes e valores similares aos nossos.
PAV: Em questão de clientes-alvo, a ideia é trabalhar somente com emissoras de TV ou outras aplicações de operação audiovisual também estão no radar? Quais tipos de serviços serão oferecidos?
Litowsky: Ofereceremos aos nossos clientes das áreas de radiocomunicação, produção, gerenciamento e distribuição de mídia à vendas de produtos e serviços de engenharia premium que incorporam consultoria, análise e desenvolvimento de fluxos de trabalho, planejamento e gerenciamento de projetos, projeto executivo e documentação, implementação, comissionamento, treinamento e suporte técnico.
PAV: Vocês atuaram em diferentes empresas de grande porte do mercado durante todos estes anos de indústria broadcast. Como esta experiência pode ajudá-los no estabelecimento de uma operação própria?
Belonio: Somos muito gratos pelas experiências adquiridas ao longo de tantos anos em algumas empresas atuando como clientes e fornecedores. Tivemos a oportunidade de ter trabalhado com inúmeras revendas, nos dando uma ampla visão do que elas precisam como ferramentas para desenvolver o seu trabalho junto aos clientes, entendendo também a reciprocidade aguardada pelo fornecedor nesta relação.
PAV: Vivemos um momento difuso da indústria, onde todos os broadcasters estão tentando se diferenciar. cada qual acreditando em uma forma diferente de fazer isso. Alguns apostam na área gráfica, outros na questão de resoluções cada vez maiores, outros investem em plataformas OTT… Qual o caminho correto para esta diferenciação?
Litowsky: Em nossa opinião, não existe um único caminho para esta diferenciação. As apostas em questão devem-se aos segmentos onde estes clientes estão inseridos. Mas, a opção por produtos que apresentem preço coerente com a capacidade de produção relevante para cada um destes segmentos é muito desejada pelos clientes. Traz a tal disrupção conceitual em relação às aplicações tradicionais encontradas no mercado. É o caso de um produto de automação para a produção de Jornalismo (como o Overdrive, da Ross Video), que diminui drasticamente o custo operacional na produção de um jornal de TV. Ou ainda, a opção por um roteador descentralizado (como o Mediornet, da Riedel), que traz grandes vantagens na implementação de uma topologia de roteamento, possibilitando o emprego de um número bastante menor de equipamentos aliado à uma diminuição do custo total de aquisição.
PAV: Quais as principais apostas da Alliance em termos de tecnologia, em outras palavras, quais linhas de produto devem ser o foco dentro das marcas representadas?
Belonio: Somos bem realistas em relação ao mercado nacional, suas expectativas e potencial. Acreditamos que a base da tecnologia para o futuro será a infraestrutura IP e Virtualização, porém o próprio momento econômico do Brasil não permite ainda que grandes apostas sejam realizadas pelos clientes. Uma abordagem de transição para o médio e longo prazos é no que apostamos.
PAV: Apesar de o Brasil ser um dos países que mais consome mídia eletrônica do mundo, normalmente é um território que tem baixa representatividade no MarketShare de fabricantes globais. Você acha que tradicionalmente as emissoras e afiliadas brasileiras investem pouco em tecnologia?
Belonio: Acreditamos que o broadcaster brasileiro sempre foi exigente com a qualidade da televisão nacional. Realmente, devido à situação econômica brasileira recente, os recursos financeiros ficaram restritos aos projetos emergenciais, diminuindo o volume total dos investimentos. Mas, pensamos que com o reaquecimento enconômico, viveremos um novo ciclo de investimentos no setor.
PAV: Estamos vendo um grande movimento de consolidação da indústria, destacando-se aqui a recente escalada de fusões e aquisições. Como este movimento afeta a decisão de compra do cliente final?
Litowsky: Existem vários aspectos nesta questão. A concorrência é necessária, tanto para o cliente que apura preços e características que melhor se adequam à sua realidade, quanto para o fornecedor pois o impulsiona ao desenvolvimento constante dos seus produtos. Estes movimentos de fusões e aquisições tornam o cenário muito incerto e, muitas vezes, o cliente terá apenas aquela oportunidade para investimento em muitos anos. O cliente provavelmente procurará opções com que tenham apresentado estabilidade, o que trará mais segurança no momento do investimento.
PAV: E para o representante das marcas, que é o caso da Alliance, existe uma preocupação na escolha de quem representar diante desta possibilidade de mudanças grandes a curto prazo?
Belonio: Sim existe, tanto que para nós é mandatório trabalhar com fabricantes com visão de longo prazo, principalmente não tendo passado por drásticas mudanças nos últimos anos.
A resposta a esta pergunta é exatamente o que nos motivou a escolher os parceiros da Alliance: a solidez da corporação, a coerência do portfólio de produtos e o compromisso com o mercado.
PAV: Você acredita que a capacitação técnica de mão de obra qualificada ainda é um problema no Brasil?
Litowsky: Sim é verdade, esta é uma questão delicada e afeta a todos nós. Somos um país sem histórico de investimento em educação, salvo raras exceções. A carência de mão de obra qualificada se dá em todos os setores. Sem dúvida isso diminui o nosso horizonte e acende um forte sinal de alerta para as novas gerações de brasileiros. O nosso segmento sempre teve que lidar com esta dificuldade estrutural da educação no país, e por isto, as emissoras e demais empresas da área sempre foram formadoras de profissionais para atender à demanda.
PAV: O quão longe estamos de uma operação broadcast com infraestrutura 100% IP? Veremos os departamentos de engenharia substituídos por profissionais de TI?
Belonio: É bastante difícil responder a isto, especialmente considerando que nosso país não tem uma infraestrutura homogênea ao longo do território. Mas, hoje acompanhamos empresas que estão bastante adiantadas nos seus projetos com infraestrutura IP. Alguns pretendem estar Full IP em 3 anos, o que seria incrível. Uma estimativa razoável seria considerar isto ocorrendo entre 2020-2025, considerando a grande diferença de infraestrutura entre os principais centros urbanos brasileiros e, evidentemente, o estágio de desenvolvimento de cada empresa.
Litowsky: Sobre a substituição de profissionais, acreditamos que já exista uma clara mudança de perfil na engenharia. O profissional de hoje já agrega conhecimentos em TI desempenhando tarefas como administração de redes, ciber-segurança, compliance, gestão e armazenamento da mídia, aliadas às tradicionais atribuições quanto ao ingest, playout, distribuição e criação de conteúdo.