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Alfonso Cuarón fatura Oscar de melhor Cinematografia

Por Redação

Diretor mexicano faturou a estatueta pelo filme Roma, produzido para o Netflix

Após intensas polêmicas a cerca de como a Academia de Cinema Americana lidaria com algumas das premiações técnicas, que haviam sido cotadas para ficar de fora da transmissão oficial do evento, a cerimônia realizada ontem acabou tendo altas doses de surpresa e outras nem tanto. Uma dessas “cartas marcadas” foi o óscar de melhor cinematografia (categoria que estava entre as esnobadas) para o diretor mexicano Alfonso Cuarón pelo filme Roma.

A obra, que já começa diferentona por ter sido produzida para o Netflix ao invés do circuito de cinema tradicional, já havia sido considerada pela maioria dos críticos como uma maravilha da cinematografia. A curiosidade, é que Cuarón, que também assina como roteirista e diretor, não era para ter sido o DP do filme no projeto original.

Os últimos três grandes filmes do diretor mexicano “Children”, “Y Tu Mama” e o blockbuster “Gravidade” foram produzidos em parceria com o premiadíssimo Emmanuel Lubezki. O mesmo deveria valer para “Roma”, mas por conta de um conflito de agendas, Lubezki não pode estar presente nos dias de filmagem, o que fez Cuarón tomar a decisão de assumir o trabalho ele mesmo, criando e até mesmo desafiando algumas regras básicas da cinematografia.

O primeiro grande impacto é pelo fato de se tratar de um filme inteiramente em preto e branco. “Eu não queria um filme que parecesse vintage ou velho. Eu queria um filme moderno que falasse do passado. É por isso que ao invés de ir para um formato de 35mm, optei por filmar em 65mm”, explica Cuarón. De fato, segundo o diretor, o uso do PB já estava nos pilares centrais da concepção do filme. “Quando a ideia surgiu, eu sabia que seria um filme sobre a personagem Cleo, seria sobre memórias e que seria preto e branco. Isso não poderia mudar”.

Outro destaque do tipo de linguagem de “Roma” está no tempo dos movimentos de câmera, com as cenas construídas com atores e imagem movendo-se em diferentes ritmos. “Esse tipo de cena só foi possível construir graças a uma comunicação em tempo real com os operadores de Dolly e garantindo aos atores certa liberdade de, muitas vezes, não saber exatamente como seria o movimento das câmeras”, explica o diretor.

“Roma” traz uma porção de cenas bastante complexas de serem executadas tecnicamente, mas o próprio colega Emmanuel Lubezki, em um bate papo com Cuarón conduzido pelo site indiewire, levanta o take da personagem dentro do Cinema como o mais complexo. “Dentro do cinema há luz interativa, e uma imagem com muita profundidade de campo, o que precisa de um stop pesado, o que por sua vez significa usar muita luz. O que é um problema, pois a cena permite que você veja o que está sendo projetado na tela do cinema. Mesmo para DPs extremamente experientes esta cena é um pesadelo”, brinca Lubezki.

De acordo com Cuarón, a solução foi uma engenhosidade usando paineis de LED. “Trocamos a tela de projeção do cinema por um grande painel de LED exibindo o filme. Mais próximo dos personagens, colocamos outro painel de LED, sincronizado com o primeiro, para criar o efeito da iluminação no rosto deles. Como os LEDs emitem muito mais luz, pudemos trabalhar com a profundidade de campo desejada. Depois, em pós-produção, trocamos o efeito do LED exibindo o filme por uma textura típica de projeção antiga”, conta.

O filme “Roma” conta a história de Cleo, uma empregada doméstica que trabalha para uma família de classe média no Distrito Federal do México no início do governo de Luis Echeverría. Vencedor do Globo de Ouro e do Leão de Ouro de melhor filme, a obra já está disponível no Netflix. Para ler o bate papo completo entre Lubezki e Cuaréon (em inglês), basta acessar o indiewire.

Entre as outras categorias técnicas premiadas na noite de ontem, o filme “Bohemian Rhapsody” levou três estatuetas, a de Melhor Edição para John Ottman, Melhor Edição de Som para John Warhurst e Melhor Mixagem de Som para Paul Massey, Tim Cavagin e John Casali. O prêmio de Efeitos Visuais ficou para Paul Lambert, Ian Hunter, Tristan Myles e J.D. Schwalm por “Primeiro Homem”.

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