Por Eduardo Vale*
O avanço das redes de telecomunicações rumo ao 5G tem levantado discussões sob diversos aspectos e em diversos locais pelo mundo, incluindo o Brasil. Porém, mesmo sendo um assunto polêmico, com presença constante na nossa imprensa em abordagens relacionadas ao processo de licitação e espectro de faixas a serem leiloadas, pouco se tem abordado até o momento sobre a grande transformação digital que a tecnologia 5G de fato irá proporcionar ao país, bem como os impactos na geração de novos modelos de negócios e relações de consumo.
É indiscutível argumentar o salto tecnológico que o 5G trará para diversos setores da economia, principalmente à Indústria 4.0, que engloba algumas tecnologias emergentes para automação e troca de dados – conceitualmente estou me referindo à Internet das Coisas (IoT) e Computação em Nuvem – que será revolucionada, melhorando radicalmente a experiência do usuário. Basta comparar a diferença da latência (tempo necessário para receber uma resposta às informações entregues) do 5G para as faixas de frequência que conhecemos até hoje para se ter uma ideia do futuro programado ao qual estou me referindo: 1 milissegundo contra 20 milissegundos (3G) e 10 milissegundos (4G). Além dessa enorme vantagem, enquanto o 4G consegue oferecer internet a uma velocidade de 1GB, o 5G consegue oferecer uma velocidade de 20GB por segundo. Mas o que isso tem de tão extraordinário? Eu diria, tudo! O 5G irá transformar toda uma sociedade, a forma como consumimos e nos relacionamos com TI e Telecom.
Essa característica vai tornar viável o tratamento de uma enorme quantidade de dados, abrindo possibilidades reais para sistemas autônomos, por exemplo, ganharem escalas comerciais, como também a Inteligência Artificial permear cada vez mais a evolução dos negócios, impulsionando o uso de máquinas inteligentes, conexão entre os equipamentos, e tantas outras características essenciais para a adaptação das indústrias à quarta revolução tecnológica. Não fosse o suficiente, essas vantagens mudarem o cenário de toda uma sociedade, tornando-a mais produtiva e competitiva, ainda existe o fato de que no centro desse ecossistema onde o 5G está inserido, se encontra o usuário, o consumidor de toda essa tecnologia.
É indiscutível argumentar o salto tecnológico que o 5G trará para diversos setores da economia, principalmente à Indústria 4.0, que engloba algumas tecnologias emergentes para automação e troca de dados.
A nova era do UX
Com a implantação de fato do 5G no Brasil (que deve ocorrer no começo de 2021), estaremos transformando a forma como contratamos e consumimos internet, planos de telefonia fixa e móvel e como nos relacionamos com todos os dispositivos tecnológicos. Com isso, estaremos inaugurando uma nova era de como contratamos, consumimos e nos relacionamentos com tecnologia. Vamos ver surgir também um novo perfil de consumidor/usuário/cliente de TI e Telecom. Além de mais exigente, o 5G o tornará mais independente, mais empoderado.
Isso porque, ao contrário da tecnologia de fibra óptica, onde o consumidor para ter acesso à internet depende da contratação de uma empresa especializada que conecte a sua residência com a fibra, o que exige certo investimento e conhecimento técnico, com o 5G o processo é mais simples. Como se trata de uma faixa de frequência (sinal aéreo), o sinal poderá ser acessado via equipamentos tipo modem com Wi-Fi integrado, onde o consumidor compra, conecta-se ao modem por um celular, escolhe um plano de sua preferência e navega por Wi-Fi numa rede de 400 Mbps, por exemplo, sem custo com aquisição de serviços de terceiros ou mão de obra especializada, ou seja, o próprio consumidor assume o controle de todo o processo, da compra ao uso, não exigindo nenhuma habilidade técnica e reduzindo custos de instalação.
Resumindo, a tecnologia “sem barreiras” do 5G chega para romper paradigmas no setor de Telecom. Será um “divisor de águas” no segmento. Mas, para atingir esse cenário, os provedores terão que investir em equipamentos mais eficientes, visando oferecer as velocidades necessárias para que a quinta geração de internet atinja o maior número de endpoints. Sendo assim, é natural que haja uma tendência de consolidação no mercado, com maior número de fusões e aquisições acontecendo a partir do leilão da rede 5G, previstos para o final desse ano, uma vez que as empresas que não estiverem preparadas para atender essa nova demanda que o 5G exigirá, infelizmente, estarão fadadas a desaparecer, pois os investimentos que a tecnologia exige para implantação são altos, a começar pelo valor do leilão, que estima movimentar R$ 20 bilhões.
O caminho é entender o 5G como um modelo disruptivo, um mercado com várias oportunidades a serem exploradas e um futuro que está aí bem próximo. É importante que todas empresas que de alguma forma fazem parte desse ecossistema de Telecomunicações participem ativamente das discussões e se capacitem na nova tecnologia para não ficar de fora e seguir nessa disputa.
*Eduardo Vale é CTO da Americanet, uma das principais operadoras de telecomunicações e conectividade do país.