Uma série de produções foram completamente filmadas por equipes locais em diferentes áreas do Brasil enquanto produção, direção, edição e finalização ocorriam em outro ponto
Normalmente, realizar uma produção audiovisual apresenta uma série de obstáculos, pois necessita de todo um grupo de criação e coordenação para liderarem o projeto da melhor forma possível. Com o isolamento social imposto pela pandemia no novo coronavírus, essa operação encontrou uma grande barreira, a paralisação de todas as filmagens e qualquer tipo de produção presencial. Foi aí que, buscando soluções para continuar seus trabalhos, a produtora audiovisual Prime Arte encontrou na captação de vídeos com equipes remotas a resposta para esse desafio.
Tendo em mãos um grande projeto apresentando colaboradores de um banco multinacional espanhol, que migraram de cidade ou estado para trabalhar em novas agências abertas em todo o Brasil, buscando crescimento na carreira e qualidade de vida e impossibilitada de mover a equipe de São Paulo, capital, para rodar os nove vídeos em diferentes locais do país, a empresa de conteúdo precisou se adaptar ao “novo normal” e implantar diferentes métodos de direção remota para trabalharem no projeto. O primeiro desafio foi encontrar equipes em cada cidade sem que houvesse nenhum contato anteriormente. Foi necessária uma intensa busca dos setores de atendimento, produção e direção pela internet, ligando para todas as produtoras locais, solicitando portfólios e fechando orçamentos.
De acordo com Fernanda Preste, produtora da Prime Arte, a maior dificuldade da captação remota é encontrar equipes qualificadas e que possuam os equipamentos exigidos para as filmagens. “Algumas cidades muito interioranas não dispõem de recursos para rodar esse tipo de vídeo. Foi um processo de adaptação, fomos aprendendo com as novas situações que surgiam. Antes de todas as filmagens era necessário fazer reuniões com as equipes e com os entrevistados para alinharmos os detalhes. Depois recebíamos todo o material bruto e a partir dali era correr para fazer a edição. Todo o procedimento precisava ser bem rápido, já que os nossos prazos ficavam curtos por conta das etapas até o corte final”.
Estudo detalhado e comunicação aberta se tornaram a chave para o sucesso
A utilização de captação remota pode ser produzida em diversos níveis, dependendo da necessidade da empresa, do seu orçamento disponível e da qualidade esperada. Para alguns projetos específicos foi preciso um readequação do workflow no trabalho interno, revendo plataformas e equipes, além de uma ótima comunicação com os líderes do projeto pela multinacional, para que todas as expectativas estivessem alinhadas. Estudar o clima das cidades escolhidas como locação, ajustando os melhores horários, a viabilidade de rodar em um ambiente externo por conta do calor, chuva ou ventania, até mesmo para escolher onde colocar a câmera se tornam fatores essenciais a fim de evitar qualquer contratempo.
Foi a partir de testes, erros e acertos que a Prime Arte entendeu o que precisam fazer, qual a melhor plataforma, qual a melhor solução, quais eram as necessidades. Para Marcello Martins, Diretor de Conteúdo da Prime Arte, a direção é um trabalho em que é preciso estar com um olhar apurado e em cima do que está acontecendo no local. Um momento perdido pode ser o que define todo o vídeo. “Enviamos todas as recomendações para as equipes locais e fizemos com que entendessem que eles eram o nosso time principal. Era uma responsabilidade gigante passar o nosso sucesso a distância. Eles estavam validando e conferindo a qualidade da Prime Arte naquele momento. Assistimos tudo de longe e ficamos na expectativa de ver se o material contemplava tudo o que nós planejamos”.
Para o diretor, a relação de direção e cliente se torna muito direta, pois é preciso traduzir a sua perspectiva, visão e sensação desejada em imagens e som. O desafio é conseguir transmitir essa visão não estando presente, ser capaz de capacitar a equipe remota e fazê-la absorver ponto por ponto. “É um trabalho muito grande escolher produtoras que pensem como a gente, que funcionem do mesmo jeito para fazer isso funcionar. Todo o estafe trabalhou em alternativas para que o projeto não perdesse qualidade, separando e utilizando o que tinham em mão, reformulando a produção a partir disso”.
Readaptação tornou a direção remota realidade mesmo no pós-pandemia
A maior prova de adaptação acontecia na entrega do material bruto para edição. Ainda que todo o projeto tenha sido discutido e alinhado, mais de uma vez o resultado chegava diferente do requisitado. De mãos atadas, haviam poucas opções disponíveis para salvar o vídeo: cortá-lo completamente da edição final, o que é inviável por envolver gastos e logística; refazer toda o conteúdo, também inviável pelo tempo e prazo de execução ou destrinchar todo o material, preservando as partes de melhor nível e enviando para a pós-produção, que criará o resultado mais satisfatório possível. “O produto final comprovou que temos uma capacidade muito grande de adaptação e sabemos lidar com as diferenças de qualidade e de prazo. É muito trabalhoso, mas o final é satisfatório. Aprendemos que existem lugares e regiões em que podemos confiar nas equipes locais. Conseguimos entregar todos os nossos projetos com a mesma qualidade de sempre”, afirma Preste.
Luciana Ogata, Líder de Atendimento da Prime Arte, analisa que todas as mídias de forma geral estão em constante mudança, mas com o ineditismo da pandemia, este processo foi acelerado. Mesmo assim, o objetivo continua sendo atender a demanda do cliente trazendo as melhores soluções disponíveis. “O atendimento está totalmente focado em atender o cliente, por isso essa adaptação aconteceu de forma orgânica, ou seja, se o cliente precisou mudar rápido, mudamos rapidamente com ele. Para a direção remota, estruturamos squads por cidade, onde envolvemos o diretor do set, nossa produção e os times externos e com o desafio em mãos, fomos alinhando até chegar no produto que temos hoje”.
A executiva também avisa que a direção remota se tornou uma realidade que deve continuar crescendo, já que empresas e produtoras descobriram, dependendo da complexidade de um projeto, a praticidade, não só artística como em questões de custos, da contratação de equipes terceirizadas.