Home Entrevistas ENTREVISTA: André Kudelski, CEO do Grupo Kudelski

ENTREVISTA: André Kudelski, CEO do Grupo Kudelski

Por Ricardo Batalha

“O futuro não é uma continuidade linear do passado”, afirma André Kudelski ao se referir às mídias digitais em tempos de pandemia

No início da pandemia, tínhamos poucos dados sobre o que estava acontecendo. De repente, em poucos dias, tudo o que costumávamos fazer parou. E não é que o digital não fosse capaz de operar, mas as pessoas não estavam prontas para que todos os elementos do dia a dia fossem digitais, tanto é que mesmo as atividades que já tinham essa natureza precisaram ser ajustadas. Demorou alguns dias ou semanas até que os negócios pudessem se adaptar, e isso teve um impacto também na indústria de mídia e entretenimento, dado as interrupções no nível de produção e na forma de lidar com novos assinantes. André Kudelski, Chairman and CEO do Grupo Kudelski, líder mundial em tecnologias de capacitação de negócios digitais e da NAGRA, divisão de TV digital do Grupo, fala sobre as mudanças que o novo cenário impôs à indústria de M&E e suas impressões sobre como atuar proativamente em um momento de incertezas.

Qual o impacto da pandemia nos negócios para a TV digital em âmbito global e as diferentes tendências que você observa nos principais mercados?
André Kudelski: É realmente surpreendente ver como as coisas foram desafiadoras nesses dois últimos anos. Chama a atenção também a rapidez com que alguns dos atores dessa engrenagem foram capazes de voltar ao normal ou pelo menos de viver uma nova realidade. Os mercados de TV por assinatura e streaming se mostraram como uma mercadoria perecível: se os operadores não entregam o que têm a oferecer, acabou. Com investimentos, interação de trabalho e novos projetos, vimos – ainda durante o segundo semestre de 2020 – uma recuperação progressiva da volta ao normal. Um dos primeiros exemplos que pudemos ver foi na alemã HD+, que testou a possibilidade dos consumidores poderem assinar instantaneamente – por meio digital – os serviços. Esse, porém, não é o único canal de distribuição. E há maneiras de poder ganhar novos assinantes, capazes de decidir em minutos. É como se dissessem: “Eu quero me inscrever neste canal ou neste produto”. E concluíssem ter uma oferta muito interessante e vantajosa. Fundamentalmente, o que a pandemia nos mostrou é que o futuro não é uma interpolação linear do passado, sendo preciso ser capaz de tomar decisões em uma posição com algum grau de desconforto, por não se saber o suficiente.

Com investimentos, interação de trabalho e novos projetos, vimos – ainda durante o segundo semestre de 2020 – uma recuperação progressiva da volta ao normal.

Como os operadores podem propor inovações nesse novo cenário?
André Kudelski: Tomar decisões com base em dados coletados na assinatura, na plataforma da operadora e poder testar algo muito personalizado para um conjunto de consumidores, replicando isso para os demais assinantes, se pertinente, é uma maneira de ser proativa. Não convém pensar exclusivamente em gerar novas receitas ao limitar o churn, é preciso ser muito mais granular de forma a atender as necessidades dos assinantes completamente. Ainda nesse sentido, da nossa parte, estamos investindo 25% mais de nossa receita em pesquisa e desenvolvimento. Tendenciosamente, olhando para cinco a dez anos a partir de agora, espero que esse percentual aumente. Dito isso, continuamos a ter uma parte importante de nossos esforços de P&D – na faixa de 40% a 50% – no setor de TV digital, porque estamos aqui para trazer a melhor solução possível para nossos clientes, para ajudá-los a serem mais competitivos. Com esse propósito, trouxemos a nuvem para a TV, o Insight, as soluções esportivas que, combinadas, oferecem algo que é extremamente interessante. A pandemia acelerou a necessidade de mudança na forma como as diferentes operadoras atendem seus clientes, tendo talvez menos catálogo próprio, agregando mais conteúdos. Atentos a esses vieses, tentamos agir o mais proativamente possível para encurtar o tempo de novos serviços no mercado.

Os eventos esportivos foram muito afetados com o isolamento social, com as restrições de abertura dos espaços dos jogos e público nos eventos. É possível transpor essas barreiras e satisfazer os aficionados por esportes?
André Kudelski: O esporte (a sua ausência) teve um impacto bastante importante nas operadoras de TV paga, porque é uma de suas forças, e por duas outras razões: a primeira delas diz respeito à limitação do número de pessoas que pode entrar em um local para assistir, presencialmente, um evento esportivo. A outra é a limitação de viagens que torna tudo mais complicado. Nesse cenário, desenvolvemos uma solução que está permitindo aos clubes e canais de esportes manterem uma relação de proximidade com a torcida. Não se trata de uma solução apenas no sentido de trazer algum elemento relacionado à mídia ao esporte, mas capaz de criar essa química incrível entre o torcedor e o clube esportivo, e tudo isso como uma oferta para transpor esse momento desafiador onde a maneira natural de interagir com os aficionados por esportes é bastante limitada. Nesse sentido, temos o serviço que fornecemos globalmente para a Federação Internacional de Hockey como exemplo. Dada à abordagem disruptiva com que permite alcançar e engajar esses torcedores, a solução é capaz de expandir a base de fãs e ampliar a dimensão na interação entre torcedor e clube e entre os próprios torcedores.

Continuamos a ter uma parte importante de nossos esforços de P&D – na faixa de 40% a 50% – no setor de TV digital, porque estamos aqui para trazer a melhor solução possível para nossos clientes.

A pirataria é outro ponto crítico relacionado às mídias digitais. O momento atual propiciou seu aumento?
André Kudelski: A indústria de M&E tem sido extremamente resistente, e todos aprenderam a ser mais eficientes e mais remotos e digitais. Isso trouxe a possibilidade de fazer coisas novas, a partir de um novo nível de criatividade, e isso não se limita às empresas, estendendo-se às ações dos piratas. Logo, onde temos uma atividade muito mais intensa está também o risco crescente da pirataria. A luta contra os piratas vai ficar cada vez mais séria porque, sem conter a pirataria, o valor do conteúdo é algo mais desafiador. Esse é um elemento importante e realmente não há uma tendência de queda. Ao longo dos anos, nós ganhamos experiência lutando contra a pirataria e o crime cibernético, nos especializando cada vez mais para garantir que as coisas essenciais para os negócios possam operar a qualquer momento, em múltiplas telas. Um dos nossos diferenciais, inclusive, é tratar de forma muito eficiente não só a qualidade do serviço prestado, mas também a própria infraestrutura do operador. Nesse sentido, o combate à pirataria é uma batalha que exige muito comprometimento e com a diversidade de tecnologia que temos a oferecer nós estamos prontos para esse enfrentamento.

Acompanhe a Panorama Audiovisual no Facebook e Youtube

Assuntos relacionados